O que provocou o aumento no preço da carne?

Por: Cleia Ornellas – Professora Escola de Veterinária UFMG – Depto Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal (LinkedIn)

O preço da carne, assim como todos os produtos e serviços, sofre influência direta de diversos fatores como despesas fixas para sua obtenção, que contemplam, por exemplo, aluguel e seguro, e ainda por custos diretos e indiretos de produção. Os custos diretos podem aumentar ou reduzir em função da aquisição de insumos, consumo de energia elétrica e demanda de mão de obra enquanto os custos indiretos não têm seu valor alterado independente da variação na produção, como é o caso do salário de um diretor industrial e a depreciação de um equipamento.

Para a precificação de um produto ou serviço todos esses parâmetros são levados em consideração, mas além deles há outro que é determinante na formação de preço, a lei da oferta e da procura. Nesse modelo, os consumidores procuram pelo produto ou serviço e as empresas os oferecem e a partir daí inicia-se uma ciranda na qual ora o preço está elevado pela pouca oferta e ou grande demanda, ora está baixo pelo excesso de oferta e ou baixa procura.

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No mercado da carne, não é diferente. O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo com aproximadamente 213 milhões de cabeças, sendo o maior exportador de carne em toneladas e em faturamento.  O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2018 registrou crescimento e atingiu o montante de R$ 6,83 trilhões. No mesmo período, o PIB da pecuária somou R$ 597,22 bilhões, 8,3% acima do apurado em 2017, demonstrando assim grande relevância para a economia do país. 

De acordo com dados do IBGE o rebanho brasileiro de suínos em 2018 totalizou 41,4 milhões de animais. Nesse ano, o abate contabilizou 40,15 milhões de cabeças e produziu 3,76 milhões de toneladas em equivalente carcaça. A exportação de carne suína é bastante expressiva e apresentou um aumento significativo desde o inicio do ano, sobretudo entre os meses de abril e maio, e no acumulado do ano, o Brasil já exportou 19,02% a mais que em 2018. Esse aumento foi observado principalmente para os três maiores países importadores de carne suína do Brasil: China, Rússia e Hong Kong.

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A expectativa da produção brasileira de carne de frango em 2019 é de que alcance 13 milhões de toneladas, 1% a mais em relação ao ano anterior. No primeiro semestre do ano foram exportados 2,43 milhões de toneladas de carne de frango pelo Brasil, uma alta de 5,8% e o principal destino foi a China, representando 13% do total embarcado pelo Brasil.

Com todo esse potencial produtivo o Brasil se destaca como um dos países abastecedores de proteína animal para o mundo. Esse destaque, merecido, é fruto de um trabalho incasável de toda a cadeia produtiva e dos serviços oficiais de defesa e sanidade animal, assim como dos serviços oficiais de inspeção de produtos de origem animal. Ressalta-se que sem a dedicação e os investimentos em melhoria genética e nutricional e um trabalho rigoroso no controle sanitário dos rebanhos e dos produtos de origem animal o país não estaria habilitado para disponibilizar seus produtos ao mercado externo.

Esse ano, em especial a expansão das vendas para o exterior esteve diretamente relacionada à crise de peste suína africana que assola a Ásia. A crise sanitária no continente asiático resultou na elevação das importações de carnes de frango, suínas e bovinas brasileiras. A expectativa é de que produção e exportação de carne mantenham ritmo positivo em 2020. 

Essa maior demanda impacta positivamente a economia brasileira no que se referem às exportações, mas trás desconforto ao bolso dos brasileiros. O produto se torna mais valorizado e tem sua disponibilidade para o mercado interno reduzida, prevalecendo a definição do preço pela lei da oferta e da procura. Para amenizar essa situação, de preços elevados e menor oferta, o consumidor busca alternativas em outras fontes de proteínas de origem animal como ovos, mas novamente essa maior demanda provoca uma elevação no preço dos produtos. 

Mesmo diante desse cenário competitivo e bastante favorável para a bovinocultura, suinocultura e avicultura é muito importante que se tenha limites e que se mantenha o foco na busca pelo equilíbrio entre as exportações e o abastecimento do mercado interno, pois de outra forma poderão surgir outros problemas  de natureza econômica e social.

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